domingo, fevereiro 15, 2009

O medo do escuro...

Naquele dia não sei bem porquê, pela primeira vez senti um medo quase absurdo da escuridão. Recordo degrau a degrau as escadas que contei ao subir. Trinta degraus!
A Tátá mandou-me ao quarto para corrigir os deveres e subi a cantarolar, os trinta degraus de luzes acesas… Lá fora, a chuva também cantarolava nas caleiras rotas, e naquela pocinha do quintal onde à tarde chapinei os pés, apesar de gelada com a Ana a ralhar da cozinha:
“-Mariazinha, a menina, ainda vai ficar doente! Saia já da chuva!”
Sentei-me no velho sofá cor-de-rosa que me abraçava, com a tábua de costureira, encaixada no tronco, e que todos, pelos rabiscos que lá deixamos, usamos como prancheta, e lá me deixei ficar…
Então ouvi a Tátá:

“- Maria, é preciso tanto tempo?”
“E agora? Tenho que descer! -Ai! Tenho que descer!...”
E os pés pesavam chumbo, e as mãos crispavam-se nos braços acolhedores do “meu” sofá uterino, tão cor-de-rosa e quente! Porquê aquele medo? Pensar que quando saísse do sofá e do quarto teria de apagar a luz, e que atrás de mim restaria aquele escuro onde divisava a sombra gigantesca dos velhos móveis, e os seus sussurros…! Que pavor! E de novo:
“- Que estás a fazer Mariazinha? Estou à tua espera!”, ouvi a Tátá…
Então, galguei aqueles infindáveis trinta degraus em correria cega e louca, a cantar em altos gritos!
“Menina, que gritaria vem a ser essa? Tenha modos! Tenha maneiras!”.
Sempre que me tratava por menina, a coisa ficava feia…, e o meu cantar baixou o tom…Inventei qualquer desculpa esfarrapada que já nem lembro, se surtiu qualquer efeito, não é fácil enganar a Tátá…
Desde essa altura, seja qual for o “buraco negro” em que julgo me ir perder esbracejo e canto, canto sempre, seja de que modo for, para calar as vozes da escuridão que me envolve.
BEIJO MEU PARA TI!!
BEIJOS!!!

17 comentários:

Mare Liberum disse...

Também ficava apavorada com o escuro. Os móveis, os sofás, os objectos tomavam vida e perturbavam a minha pequenina mente. Ao apagar a luz do compartimento onde me encontrava, saía numa correria louca e a cantar o mais alto que a minha voz mo permitia.

Beijinhos

Unknown disse...

Querida amiga Papoila,
adorei este texto! É que ele contem uma grande verdade que em dada altura fez parte da vida de todos nós: O medo do escuro, como o compreendo, e compreendo todas as crianças que estão a atravessar essa fase, como é o caso do meu filho mais novo, já tem 9 anos e ainda tem medo do escuro. Mas eu não o obrigo a enfrenta-lo, há-de perdê-lo por ele, sem o forçar a nada!

Beijinhos,
Ana Martins

pico minha ilha disse...

Acho que ainda sinto medo do escuro e das imagens que dentro dele passam pela mente, acho que todos temos um pouco medo do escuro, seja em que idade for.Beijinho

Secreta disse...

"Quem canta seus males espanta" ... Dizem , mas nem sempre acontece assim.
Beijito.

rendadebilros disse...

POis a escuridão encerra muitos mistérios... mas há que saber enfrentar... esta é uma boa ideia!!!

O sol agora veio com vontade de ficar... têm estado uns dias maravilhosos...

Boa semana.
Beijos.

Agulheta disse...

Papoila! Lindo o texto e com muita ternura contado,mas todos em pequenos temos medo do escuro,ainda me lembro de me fecharem num quarto escuro,quando andava na doutrina,o medo nem foi assim tanto,mas me lembro bem desse dia,(padres)
Beijinho de amizade

Lisa

Pena disse...

Linda Amiga:
Sempre me dei bem com a escuridão e os seus misetéios.
"...Sempre lhe calei a voz...", palavras suas de beleza e pureza.
É certo que só fazia travessuras, asneiras, mas gostava dela.
Enquanto os outros bricavam eu entretinha-me na minha malvadez infantil de fazer tudo o que não devia ser feito.
Tenho inúmeras peripécias não de juventude, mas de infância na comunhão com a escuridão.
Um belíssimo texto em prosa/poética lindo qyue fascina e delicía.
Uma extraordinária sensibilidade poética de prosar de fascinar.
Lindo o que escreve com doçura, pureza e beleza.
Extraordinário.
Quanta ternura jorra deliciosamente de si e do seu enorme e gigantesco valor precioso e de ouro.
Adorei!
Quando nasceram os meus dois filhos, chorei.

Bem agarrado e amparado à minha doce esposa, choramos.
Pareciam irreais, personagens de um filme muito belo.

Quando me debrucei sobre a alcofa de cada um, vi os seus olhinhos brilharem. Virei-me comovido e exclamei: - Olha, cintilam!

Nunca mais esqueci o instante. Único!
Beijinhos amigos comovidos de respeito, estima e consideração.
Bem-Haja pelo que é, e, é, imenso.
Cordialmente...


pena
Um "Ser" e "Sentir" perfeitos, amiguinha doce!

EDUARDO POISL disse...

Lindo texto.
Passa no meu blogger, estou com saudades.
Abraços

Papoila Negra disse...

Olá bom dia,
Papoila é a minha flor preferida... Gostei de chegar aqui.
Beijo de outra Papoila

helia disse...

Não gosto da escuridão , em criança tinha medo , agora não tenho medo mas continuo a detestá-la. A escuridão deprime-me, a luz alegra-me. Um dia de Sol é um bom presente para mim.

Prof.ª disse...

O escuro, o medo... excelente descrição do sentimento e do ambiente! :)

Anónimo disse...

Eu gosto do escuro, não imaginas como dormo bem, quando tenho tudo escurinho. Estás bem AMIGA?
Beijoka.

Unknown disse...

Olá Papoila,
há em meu blogue um desafio para si!

Beijinhos,
Ana artins

Pluma(PrincesaVirtual) disse...

Ola Papoilita,

gosto tanto destas tuas historias :) e gostei particularmente desta..

Beijinhos

Unknown disse...

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Unknown disse...

Desculpa não saiu lá muito bem.
Beijinho
Manuela

Anónimo disse...

Amiga Papoila AMEI seu texto! Beijinho.