sexta-feira, julho 28, 2006

Nós e os outros...


Um traço,
ou um segredo no papel
- igual ao litro –
são Amigo meu,
evasões fáceis demais!
Procura sim as mãos presas num gesto,
com raízes estendidas pelo húmus da vida...
Nós mesmos...
Nós mesmos como nós próprios,
e todos os outros!


terça-feira, julho 25, 2006

Castelos...


Na praia lá da Boa Nova um dia,
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto castelo (o que é a fantasia)
Todo de lápis-lazzulli e coral!
António Nobre


Edificado os tenho eu também…
Castelos vários, qual o mais formoso,
em píncaros, em fragas, em praias,
Que só eu conheço… mais ninguém…
Castelos roqueiros ou de torres cem,
ameias de granito e de pérolas...
No mar calmo, em escarpas ou na falda…
Nas margens ribeirinhas, debruçados…
Os muros cravados de esmeralda,
todos cristais, brilhantes, e dourados…
Os meus castelos breve se esboroam…
Ruem… Lá dentro, os sonhos bem guardados
à solta se esvaem… e para longe... Voam!
BEIJOS...

domingo, julho 23, 2006

Um dia pela cidade...


Saí de manhã bem cedo… entrei no primeiro café, e sonhos milenários confundiram-se enquanto esperava o café e um copo de água… folheei o jornal distraída…
Passeei pela cidade por entre o ruído de carros e pessoas… sem distinguir qual a parte que cabia aos carros... e qual a que cabia às pessoas, naquele barulho...
Deambulei pelas ruas cheias de ruídos, carros e pessoas, e sem saber como, cheguei ao parque… Aí lembrei-me que te procurava… Numa árvore pousou um pequeno pássaro e ao vê-lo, experimentei um estado emocional capaz de resultados inesperados e inacreditáveis… Aqueles dois pássaros que anunciaram o Natal, debruçados no peitoril das suas pequenas janelas sobre o Jardim Suspenso onde brilham as pequenas rosas escarlates, cantam Verão adentro... Essas imagens ainda perduram… no espaço sem tempo que é a experiência do nada… e do silêncio interior… a acção inconsciente de um eu diário…
Reconheço-me nesta descoberta do eu tudo… que se apaga e esquece enquanto se sucede a si mesmo... para logo surgir de novo…
O grande mistério é este aceno por cima do desafio do quotidiano… este renovar de esperanças ao entardecer...
UM GRANDE BEIJO PARA TI! AMO-TE!

terça-feira, julho 18, 2006

Ser ponte...




Quando a memória descia,
cascatas, cabelos, estrelas,
o som do mar, o teu nome…
Poema breve teus longos dedos,
nos meus dedos, no meu corpo,
nos teus e nos meus olhos…
A ausência, as pegadas,
no caminho o suor, os sinais,
as marcas, as lágrimas,
memória do teu nome,
escrito em brasa na estrada…
Ontem à noite a memória,
o tempo, o meu coração, a cabeça,
a balançar o teu nome num poema…
A ausência dos teus olhos,
o silêncio, o som do mar,
as palavras escri
tas,
um grito quase solto!
E esta ânsia a crescer a crescer,
Este desejo de me querer lançar
agora, como ponte, aqui e ali...
BEIJO MEU...

sexta-feira, julho 14, 2006

A Luz do Mundo ...

Sinto a ansiedade das ribeiras mansas,
do musgo a crescer nas altas fragas,
da sombra fresca, da folhagem densa,
da erva que cintila ali no prado,
do cravo no vaso esburacado...
Da vida em paz, sem conhecer abismos.
No labutar um riso satisfeito,
sem crueldades vãs, nem egoísmos…
Uma ânsia que é um sentimento agudo
de um sonhar contínuo e, sobretudo,
de Luz!... da Luz!... da Luz sagrada,
que espíritos liberta, almas depura,
os seres domina, a Paz nos assegura...
Da Vida que não sinto… a Vida sã,
feita do Amor universal, irmã…
Quem dera!... Quem me dera esta ansiedade
angustiosa, imensa como a Eternidade,
eu acalmar, como se em mim sentindo
a alma do Mundo em almas mil se abrindo!...
BEIJO MEU!

terça-feira, julho 11, 2006

A nossa origem...



São de quem quero estas palavras... minhas... dos outros... dos olhos onde moram frases por dizer...
Não te peço que agarres o vento que corre dentro dos meus braços... mas como eu, ames este abraço universal...
Que no teu jeito, faças dele tua fome, tua sede... mesmo que te digam:
"Não há dentes na engrenagem!"
"Não há máquinas que esmaguem!"
O que importa, é que sejas como és...
As vozes são do Mundo... como tiros... a perturbar a Paz dos nossos dias...
Quem escreve não o faz por si... mas pelos outros... os que por ele falam, e transparecem na sua caneta...
É necessário que os surdos não sintam desigualdade...
A criação é circular... esculpida num pensamento que forma connosco uma só razão...
Porquê complicar?
Todos viemos de um mesmo continente... um ventre!
BEIJOS

sábado, julho 08, 2006

Reflectir...


Reflectir num momento, e saber dia a dia encontrar os motivos de reencontro, e não os pequeninos e medíocres motivos de desencontro, é a receita para o amor a tempo inteiro...
Que importa o que nos separa, se é tão profundo, belo e imenso o que nos une? A sabedoria, está no pesar constante nos pratos da balança na felicidade e infelicidade de cada momento, e asseguro-te meu querido, que neste dia a dia sinto-me cada vez mais humana...mais gente...mais mulher...
E a certeza que me sabes mesmo na ausência, de corpo inteiro a teu lado sem grades, sem barreiras, sem receios...sussurra-me de mim para mim com doçura: tu sabes seguir o caminho da felicidade...
BEIJO SOPRADO DA MINHA MÃO.................

quarta-feira, julho 05, 2006

Momentos (E)-ternos...



Ternura em forma de tempo
de uma beleza que galga,
o entardecer doirado,
em que nós fizemos a oferta
da verdade de estar vivo...
Imensa, em onda...
Que esfarela certezas,
do sorriso reencontrado,
dos olhos nos olhos beijados,
das mãos nas mãos enlaçadas...
Das palavras que ao resvalar,
traçam diminutos rios de mel...
E no raio de luz que nos ilumina,
juntos descobrimos...
É o oiro que brilha em nós,
o oiro puro, sem matéria...
AMO-TE! BEIJO MEU com alguma saudade...

domingo, julho 02, 2006

BIZÂNCIO leitura de Julho

Romance histórico contado na primeira pessoa e protagonizado por Aidan, um monge Irlandês que vive atormentado com visões da sua própria morte e que aceita o desafio de sair da rotina do convento para acompanhar um pequeno grupo de monges numa viagem à fabulosa e exótica cidade de Bizâncio, com o objectivo de presentear o Imperador Romano com o santo e belo livro de Kells.
Aidan irá passar, uma verdadeira odisseia com extrordinárias aventuras desde as verdes colinas da Irlanda aos temerosos mares do Atlântico, das águas do Mediterrâneo aos desertos árabes. Dos Celtas aos Vikings, dos Romanos aos Árabes, Aidan colocará em causa a sua própria crença em Deus, conhecerá a tristeza e a alegria, a riqueza e pobreza, enfim, uma odisseia belíssima, onde conseguimos sentir toda aquela atmosfera desses períodos conturbados e bárbaros dos anos 850 d.C.
Aidan mac Cainnech existiu, e o seu túmulo pode ser visto na Capela dos Santos Padres, à sombra da Hagia Sophia em Bizâncio ou Constantinopla a actual Istambul.
Esta é a história da sua odisseia!
Stephen Lawhead, numa escrita viva, fluida e realista presenteia-nos com uma obra fantástica, muito rica sob o ponto de vista histórico, cheia de pormenores deliciosos sobre distintas civilizações que dominavam o Mundo. E é espantoso que neste longo romance (755 pág.) Lawhead, consiga interligar todos estes povos de forma rigorosa e aliciante.

“Na noite seguinte passámos no meio de dois promontórios apertados e entrámos num canal estreito, com margens muito íngremes. Quando o dia nasceu a Oeste, no meio de uma neblina leitosa, a grande cidade revelou-se aos nossos olhos e todos nos amontoámos na amurada para observarmos aquela tremenda visão. Olhei através do mar enevoado pela humidade da manhã e vi uma povoação de enormes dimensões, espalhada sobre os dorsos corcovados de sete colinas, onde as grandes cúpulas dos palácios se erguiam por cima de apertados amontoados de casas brancas, e os topos arredondados das montanhas pairavam por cima das nuvens… e tudo aquilo brilhava sob a luz da madrugada como estrelas semeadas numa espécie de firmamento terrestre. Olhei para a cidade por cima da superfície da água… e comecei a sentir-me invadido por uma estranha sensação de reconhecimento que fez com que o medo obscuro começasse a pulsar através de mim mesmo, ao ritmo cada vez mais acelerado do meu coração Virei-me para Thorkel e disse:
- Isto não pode ser Miklagard.
- E por que não? – replicou. – Não há duas cidades como esta em todo o mundo.
- Mas… eu conheço este sítio – insisti, num reconhecimento cada vez mais forte. - É possível… - admitiu o piloto, com toda a sensatez – porque esta cidade tem muitos nomes. Levantou a mão na direcção da povoação espalhada pelas colinas.
Esta é a famosa Cidade do Ouro, a cidade de Constantino! - Constantinopla… - murmurei, sentindo-me entorpecido da cabeça aos pés.
- Heya! – concordou Thorkel, afável.
- Bizâncio… - A palavra era um sussurro de incredulidade nos meus lábios rígidos de medo.
- Essa é uma palavra que não conheço – disse o timoneiro. – Para os dinamarqueses, foi sempre Miklagard. Passei uma das minhas trémulas mãos pelo rosto. Tinha a certeza de que era um homem condenado… e também estúpido. Pensara ter escapado às terríveis consequências do meu sonho enquanto, no fim de contas, navegava directamente para ele. Contudo, não tinha tempo para meditar no meu destino. Harald, vendo-se próximo de uma presa, ordenou aos guerreiros que se preparassem para o ataque. A sua voz de touro disparou uma estonteante fiada de ordens que foram repetidas nos outros navios. Num espaço de instantes já todos os bárbaros se precipitavam para um lado e para o outro nos conveses dos quatro navios, enfiando armaduras e vestindo-se para o combate. O estrondear daquela agitação era horrendo. Vi Gunnar a correr no meio da confusão e chamei-o. - Aeddan! – gritou-me. – É hoje que vamos encher as nossas arcas de tesouros, heya! Sim.. e é também o dia da minha morte, pensei. A morte esperava-me em Bizâncio(…)”.
In, BIZÂNCIO, de Stephen Lawhead Tradução de Manuel Cordeiro Bertrand, 2000 (pág.241/242)
BEIJOS