sexta-feira, março 27, 2009

No teu olhar...

No teu olhar tropeçou a minha alma
que despiu com uma só carícia
a dor escondida na minha
angústia.

No teu olhar concentras todos
os sentidos… o caminho que se
descobre de um só passo
sem face dupla...

No teu olhar renasceu minha fé,
cada segredo revelado no espaço…
Prostro-me inteira sem receios
perante tua paz.

No teu olhar vive a ilusão,
habita a jura que nunca fiz,
a palavra que não empenhei,
a alma que jamais vendi.

BEIJO MEU PARA TI!!
BEIJOS!!!

terça-feira, março 24, 2009

Mimi...

Naquela noite quente Maria ao receber o serviço olhou a sala de reanimação de longas paredes brancas e nuas que estava em silêncio. Nas duas filas de berços estreitos, iguais e austeros as crianças estavam prostradas. Ouviu ao longe a voz do colega que lhe passava o serviço:
“Esta menina não passa desta noite... a febre não cede, está agónica!Tens de mentalizar-te!”.
Maria, olhou-o e sentiu uma leve vertigem que a fez prender-se ao berço mais próximo, enquanto olhava de olhos nublados para Mimi. Mimi, não era um doente com um número de cama… Mimi, era uma linda menina sobrinha da enfermeira Fátima que ela tinha internado na ante- véspera com uma infecção respiratória, depois de ter tido sarampo. Linda, bem nutrida, de olhos fundos como o mar.
“Victor, não pode ser esta noite! Não pode ser comigo!”
“Não te iludas Maria! Já fizemos tudo o que é possível. A febre não cede, está cada vez mais prostrada como podes ver! Não há antibiótico que actue, e o Professor já sugeriu a sua suspensão pois como sabes o nosso stock está a esgotar-se. Temos já muito poucos…”
“Isso nunca! Não serei eu a suspender a medicação!”, retorquiu Maria.
“Faria o mesmo! Boa noite e apoia a Fátima que deve estar a chegar!”, respondeu-lhe Victor.
Acendeu a luz de vigília, luz velada que espalhava uma claridade suave naquela sala toda branca que tornava o ambiente pesado e quente apesar do ar condicionado, um pouco mais fresco. Uma luz confortável sobre as crianças doentes prostradas nos bercinhos. Não seria nada fácil a noite, passeava de uma ponta a outra da enfermaria sem pensamentos definidos, com o desejo que a manhã chegasse rápido sabendo que ainda estava longe. Mimi continuava a lutar pela sobrevivência quando Fátima chegou a seu lado e perguntou.
“Como está ela doutora, como está minha sobrinha?”
“Não está melhor Fátima... O antibiótico não está a fazer efeito...”
A sua voz sussurrada ouvia-se no silêncio. Naquele berço Mimi só com uma fralda respirava cada vez com mais dificuldade, enquanto gemia levemente. Maria dirigiu-se para a secretária com os olhos marejados de lágrimas e sentou-se na primeira cadeira que encontrou enquanto Fátima debruçada sobre o berço abraçava a menina. Não quis estar presente naquela hora de despedida da tia a sua sobrinha. O silêncio foi rompido pelos gritos lancinantes de Fátima enquanto batia com as duas mãos cerradas sobre o peito de Mimi:
“Não podes morrer! Não podes morrer! Não podes morrer!”
Maria, aproximou-se e enquanto passava o braço sobre Fátima, para lhe dar algum conforto, Mimi tossiu e saiu por entre os lábios um liquido purulento. Maria afastou Fátima e rapidamente sentou a menina enquanto ordenava para a enfermeira de serviço:
“Aspirador! Depressa!” e começou a aspirar as secreções que Mimi expelia. Aspirou cerca de meio litro de pus enquanto Fátima a olhava…Todo o seu receio, toda a sua inexperiência em tal situação como tantas vezes sucede, transformou-se naquela voz de comando, e a pouco e pouco ficou cada vez mais calma e segura porque Mimi começava a respirar com mais facilidade… Como num desabafo Maria murmurou :
“Fátima com a sua fúria e desespero, com a sua revolta, salvou a Mimi!”
Entre soluços Fátima repetia
“Mas que fiz eu? Mas que fiz eu?”
”A Mimi tinha um abcesso pulmonar que impedia o antibiótico de actuar. Penso que as pancadas que lhe deu no peito o fez abrir para o brônquio mas vamos pedir uma radiografia para ver, mas só de manhã… e se for como penso, a Mimi vai melhorar”
As duas mulheres abraçaram-se e choraram nos braços uma da outra, beijaram-se e Maria via em Fátima um rosto grave e uns olhos vagos de quem não comprendia bem o que se passara. Sentaram-se de cada lado do berço de mãos dadas até Mimi começar a respirar normalmente. Pela manhã, Mimi já não tinha febre e sentada na cama brincava com um boneco não se sabe vindo de onde.
Quando o Professor na manhã seguinte passava a visita com Maria perguntou com ar austero:
“Porque é que esta criança está aqui internada na reanimação? Porque não foi para a enfermaria?”
Com um sorriso Maria respondeu-lhe...
“É a Mimi, a sobrinha da Enfª Fátima , senhor professor, esta noite melhorou muito depois de lhe ter aspirado 500ml de pus, e não tive ainda oportunidade de a enviar para a enfermaria…”

A Mimi está bem. Cresceu, estudou e é professora na bela cidade de Maputo. Casou e tem dois filhos.
BEIJO MEU PARA TI!
BEIJOS!!!

domingo, março 22, 2009

Pressa de chegar...

Pressa de chegar
a lado nenhum
prisioneiros
de um imperioso ego.
Num impulso
rompem esconsos caminhos…
Chegar!
Não sei bem onde…
Onde vão chegar
se o destino
é somente este viver
impaciente... ansioso....
Com pressa de chegar…
BEIJO MEU PARA TI!
BEIJOS!!!

quarta-feira, março 18, 2009

o sono de Laura...

Laura estava recostada no velho sofá no meio do seu quarto pequeno mas decorado com muita delicadeza. Nunca faltavam flores frescas numa linda jarra de cristal colocada em cima da cómoda. Estava frio e por isso fechou a janela que estava entreaberta… cansada das noites de insónia, fechou por um momento os olhos e deixou-se embalar pelas recordações dos dias da meninice, de quando queria crescer e ser grande.
Chegaram-lhe imagens nítidas da longa fila para os sanitários no recreio grande da hora do almoço no colégio onde fizera a primária. Ela e Leonor no corredor que acabava nos lavabos. Ao fundo via-se o pátio com uma grande árvore e por baixo estava desenhada a macaca onde jogavam à patela. A dela uma bela pedra de xisto que avô lhe tinha arranjado e polido como as pedras da malha que dera ao mano. A directora parada à entrada dos lavabos agilizava o tempo e colocava ordem na fila e sem querer ouviu a conversa entre Laura e Leonor, que com entusiasmo e inocência, falavam da sua ansiedade em crescerem e serem maiores para poderem ser mães. Então directa e firme como sempre, a directora, disse-lhes que a meninice era o melhor tempo da vida, a maioridade era um sofrimento não só pelos problemas que lhes traria crescer mas também porque depois de crescer tudo se via de uma outra perspectiva. As meninas ficaram caladas, sem se atreverem a dizer o que quer que fosse, mas de olhos e bocas abertas pensaram ambas para si que devia faltar um parafuso à directora…
Laura saiu do sonho e voltou ao presente despertada pelo ruído do apito da chaleira de água a ferver. Tinha deixado na cozinha a chaleira a aquecer água para preparar um café e a caneca estava já pronta no tabuleiro. Era penoso mover-se quando lhe atacava o reumatismo. Fazia-o mas com dificuldade e esforços. Sempre a mesma dor nos ossos. Não era debalde que tinham passado mais de 50 anos desde aquelas conversas infantis. Como estaria agora a Leonor? Tinha de lhe ligar. Levantou-se do sofá com visível esforço e dirigiu-se à cozinha em passos lentos e curtos. Não deixou de sorrir de lado enquanto pensava com certa melancolia que a velha directora tinha razão… Sem duvida alguma, esses anos de meninice tinham sido os melhores da sua vida… A vida tinha passado muito depressa, tinha envelhecido mas voltaria a viver tudo de novo, todas as suas lutas tinham valido a pena...
PARA TI UM BEIJO MEU!
BEIJOS!!!

domingo, março 15, 2009

onde estás vida?

Já não vivo
com a ilusão da alvorada...
Vivo para sobreviver!
Mais uma sombra na penumbra
deste vale de melancolia asfaltada…
Meu corpo, preso ao chão,
como um tapete,
para que meus ossos sejam pisados,
tal como o foi minha alma...
Espero a derrota final,
a estocada certeira
que permita ultrapassar
o bosque das sombras perpétuas
das esperanças sem vida
fascinação medíocre do drama final...
Chora coração chora o céu
chora a perda de tudo
e o ganho de nada…
A essência da vida
dilui-se a cada respiração
agónica asfixia sem tréguas
alegria de poucos
instigadora de frustração...
Pelo meu nome ninguém chama,
nas florestas de rochedos abandonados,
com flores caídas de ramos confiantes…
Sinto meu corpo a endurecer !
Só me falta morrer
para ficar mais morta!
O grito que leio no olhar de todas as idosas dependentes e miseráveis que tenho assistido e que já não têm esperança... nem nas Instituições nem nos familiares que supostamente as cuidam...

BEIJO MEU PARA TI!
BEIJOS!!

sexta-feira, março 13, 2009

terceiro aniversário

Há uns dias que esperava ansiosa pelo dia de hoje... ontem foi o “meu dia”é isso fiz mais um ano… mas é hoje que quero festejar… Hoje A Papoila comemora três anos … Quando foi que o universo cibernáutico conspirou para que fossemos amigos? Quando se deu esse momento preciso? Não sei quando nem como… Sei que hoje somos amigos e nos juntamos aqui…Não sei se a metafísica pode explicar o que a alma sabe calar... Não há ciência capaz de decifrar o significado dos sentimentos mais profundos da alma… Somos amigos e isso não se explica…. Um dia qualquer começamos a caminhar… tivemos a mesma sintonia… um acorde concordante... um dissonante… e a harmonia criou-se e cresceu com o passar do tempo… Celebro neste terceiro aniversário de A Papoila os amigos e a vida… Sinto-os como parte do que sou… do que sois vós… do que somos…A alegria da vida e a nostalgia do tempo que passa… Por hoje, um grande abraço renovado…a todos o meu…
BEM HAJAM!
BEIJO MEU PARA TI!
BEIJOS!!!

segunda-feira, março 09, 2009

fugiram as borboletas...

Escaparam do meu peito
borboletas que esvoaçam
como frágeis pétalas
de Março...

Escaparam,
como os sonhos
ao findar da noite
no nascer da alvorada.

Não me batam à porta
não me chamem
não pronunciem meu nome.

Fugiram as borboletas.
Escaparam-se!

PARA TI UM BEIJO MEU!
BEIJOS!!!

sexta-feira, março 06, 2009

o seu estendal de histórias...

Ela ganhava histórias na proporção em que a pele se apergaminhava…Desde que sabia desfiar letras e formar palavras ainda na sua voz infantil, que a ouviam contar histórias... Várias vezes encantou os companheiros de brincadeiras, que pensavam estarem a ouvi-la a ler um livro, sem notarem que tudo não passava de invenção da sua imaginação.
Agora, com o passar dos anos muitos desses rastos de histórias partilhadas, eram momentos do seu estendal de palavras (como gosta de lhes chamar)...Todos julgavam que era pura ficção, mas ela, guardava uma a uma as suas vivências e memórias e pintava-as com palavras da cor da utopia... Havia tantas pessoas, que talvez sem o saber a tinham ajudado. Claro que, como todos, tinha necessitado mais que uma vez de apoio de diversas formas. Não poderia dizer que nunca tivesse sentido num e noutro momento alguma necessidade económica, que um bom amigo se dispusera a cobrir. Quem não viveu uma circunstância adversa, em que uma mão amiga deu ouvidos à ansiedade, ou simplesmente escutou o silêncio. Ninguém poderia dizer que não tinha conseguido romper a fronteira do medo... talvez "do que dirão"... talvez simplesmente "do que verão"... valendo-se de um primeiro apoio que dizia e via o que não dói... Quem não nunca sentiu o calor de um simples "Como estás? Tudo bem?" Uma saudação que ultrapassa a cortesia ou um cumprimento formal. Ela guardou como um tesouro todos esses gestos e sentimentos, como uma ferramenta imprescindível para ir tecendo a sua história... uma crónica real, que apresentava em dias de estender histórias.... uma cadeia de letras que escorregava do estendal onde restavam as molas de retalhos de vivencias... Enquanto a pele adquiria textura de pergaminho, ela guardava histórias... histórias que estendia e deixava a secar ao alcance de quem a ajudava a seguir, sempre a seguir o seu caminho...
BEIJO MEU PARA TI!
BEIJOS!!!

terça-feira, março 03, 2009

cantarolar...

Há cantigas que nos invadem logo de manhã e que sem sabermos porquê não nos saem do ouvido durante todo o dia. Hoje de manhã ao passar junto ao mar corria um vento fresco e lembrei-me da minha cantiga preferida da infância que todo o dia trauteei. Cantava-a no Jardim Escola João de Deus que frequentei desde os três anos de idade e se tornou para mim uma referência e uma recordação doce. Vou partilhá-la aqui convosco.

O VENTO

Já o vento me leva ao ar
Coradinha da cor da romã
Pé aqui… pé ali… pé além…
Dá-me um abraço meu lindo bem…

Ò que praias tão lindas tão belas
Onde eu ia passear
Sentadinha na areia sozinha
Apanhar conchinhas do mar…

E vocês lembram-se de alguma? Querem partilhar aqui connosco?

BEIJO MEU PARA TI!

BEIJOS!!