segunda-feira, janeiro 01, 2007

A Lei do Amor, leitura de Janeiro

A Lei do Amor é um livro fascinante que trata da paixão amorosa, entendida como uma força arrebatadora que sempre acaba por se impor contra todos os obstáculos, se formos capazes de cumprir os ditames da sua lei. Uma fábula futurista e muito sensual, que nos conduz pelo tempo e pelo espaço, no passado e no presente, entre o ódio e o amor, à descoberta da mais secreta e da mais conhecida de todas as leis universais.
Um texto muito sugestivo, com uma escrita brilhante, inteligente e arrebatadora.Neste magnífico livro, Laura Esquivel mostra-nos toda a pujança da sua criatividade.
É passado em 2200, numa época em que os CD estão submetidos a um rigoroso controlo, e proibidos nalguns casos, pois as pessoas podem revisitar as suas vidas anteriores escutando determinadas peças de música.
O livro é acompanhado por um CD que contém fragmentos de óperas de Puccini e canções populares, que devem ser ouvidos em determinados momentos da leitura. Possui também ilustrações de Miguelanxo Prado, que de tempos a tempos transformam em imagens o desenrolar da própria história e que constituem factores de enriquecimento de uma obra que se apresenta como o primeiro romance “multimedia” da história da literatura.
Neste dia 1 de Janeiro, Dia Mundial da Paz, é a minha sugestão de leitura para o primeiro mês de 2007...
Laura Esquivel nasceu na Cidade do México a 30 de Setembro de 1950. Começou por ser professora e escreveu obras de teatro para a infância. Revela-se primeiro como guionista de cinema com Guido Guán e Tacos de Oro, 1985, nomeado pela Academia de Ciências e Artes Cinematográficas para o Prémio Ariel. Manteve a actividade de guionista até publicar o seu primeiro romance Como Água para Chocolate que obteve êxito internacional – traduzido em 35 línguas, e adaptado ao cinema. Vendeu mais de 3600000 exemplares, o que valeu a Laura Esquivel, em 1994, o ABBY (American Booksellers of the Year), pela primeira vez atribuído a um escritor estrangeiro.


“O aerofone do doutor Diez não autorizou a entrada de Azucena. Isto era um indício de que o doutor estava ocupado com algum paciente e o deixara bloqueado. Azucena, então, não teve outro remédio senão entrar primeiro para o seu escritório para dali ligar para o seu vizinho de consultório e marcar um encontro como devia ser. Realmente não fez nada bem em marcar directamente o número aerofónico do doutor. Era uma tremenda falta de educação apresentar-se numa casa ou num escritório sem se ter apresentado antecipadamente, mas Azuzena estava tão desesperada que passava por cima dessas mínimas regras de cortesia. É claro que era para isso que servia a tecnologia, para impedir que os bons costumes fossem esquecidos. Azuzena, portanto, viu-se forçada a comportar-se de forma civilizada. Enquanto esperava que a porta do seu escritório se abrisse, pensou que há males que vêm por bem, pois há uma semana que não ia ao seu consultório e d certeza que teria uma infinidade de telefonemas de todos os pacientes que ela abandonara.
A primeira coisa que ouviu assim que a porta do aerofone se abriu foi um “Que pouca vergonha!” colectivo. Azucena começou por se surprender, mas depois entristeceu-se muito. As suas plantas tinham estado sete dias sem água e tinham todo o direito de a receber daquela maneira. Azucena costumava deixá-las ligadas ao plantofalante, um computador que traduzia em palavras as suas emissões eléctricas, pois ela gostava de chegar ao trabalho e que as suas plantas lhe dessem as boas vindas.
Geralmente as suas plantas eram muito decentes e carinhosas. Mais ainda, nunca antes a tinham insultado. Agora Azucena não as censurava; se havia alguém que soubesse a raiva que dava ficar à espera. era ela. Deitou-lhes logo água. Enquanto o fazia, pediu-lhes mil desculpas, cantou-lhes e acariciou-as como se fosse ela própria a ser consolada. As plantas acalmaram-se e começaram a ronronar de prazer.”

In A Lei do Amor, Laura Esquivel, tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra, ilustrações de Miguelanxo Prado, Edições ASA, 15ª Edição Setembro de 2004 (pag 41/42)

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