quinta-feira, junho 01, 2006

DA PARTE DA PRINCESA MORTA, leitura de Junho

Da escritora e jornalista Kénizé Mourad, este livro, conta a história de sua mãe. Inicia-se em 1918 na corte do último sultão do Império Otomano. Selma tem sete anos quando este Império que fez tremer toda a Europa se desmorona, e tem de abandonar Istambul.
A família imperial refugia-se no Líbano e Selma que perde ao mesmo tempo o pai e o país, cresce em Beirute onde encontra o seu primeiro amor. Mais tarde aceita casar com um rajá indiano que nunca tinha visto, e vai para a Índia onde conhece o fausto dos marajás, os últimos dias do Império Britânico e a luta pela independência travada por Ghandhi.
Tal como no Líbano, aqui será sempre vista como “a estrangeira” e rejeitada pelo povo a quem já se afeiçoara. Foge para Paris, e encontra finalmente um verdadeiro amor. A guerra separa-os, e Selma morre na miséria com 29 anos, depois de ter dado à luz uma filha, a autora deste livro.
Este romance foi lançado em Paris, foi traduzido em várias línguas e em 1998 ganhou o prémio literário da revista ELLE.


O sol poente doura a água das fontes. Estendida sobre o branco mármore, Selma saboreia os primeiros momentos de frescura. As aias já não a vêm incomodar neste jardim interior, o último depois do pátio das mulheres. Fez dele o seu santuário. È aqui que sonha, chora e escreve à mãe cartas em que fala da sua felicidade.
Hoje faz já dois meses que casou… só dois meses!... Angustiada, reergue-se e pergunta subitamente a si própria o que está ali a fazer, o que faz da sua vida… Chás e mais chás, multidões de mulheres gentis a quem nada tem a dizer, o sorriso de Zhara, os desafios da rani, e depois… Amir. Amir de dia, Amir de noite, o sedutor rajá, o perfeito cavalheiro ocupado com a política e com a gestão do seu Estado, e este grande corpo escuro, silencioso, ávido e indiferente. Depois do choque da primeira noite, Selma habituou-se. A horrível palavra… mas que pode ela fazer se o seu marido é surdo, mudo e cego?
Passos nas lajes. Quem se atreve?
- Ah, Zeynel! Meu bom Zeynel, porquê esse ar triste?
- Preocupações, princesa. A sultana está só em Beirute e a sua saúde…
Pobre Zeynel como se aflige! Annedjim tem duas calfas que a acompanham dia e noite, mas é verdade que, desde que adoeceu, ela se tornou como sua filha. A jovem não resiste ao prazer de o irritar.
-Queres abandonar-me? Já não gostas da tua Selma?
Ele cora e morde os lábios. Selma arrepende-se logo.
-Então? Estava a brincar. Também eu creio que deves regressar a Beirute. Ficarei mais tranquila sabendo-te junto da minha mãe.
Zeynel fita-a. Parece desesperado.
- E vós princesa?
-Eu como? Velho presunçoso! Julgas-te pois indispensável?
Tem um riso forçado. – Não vês como me acompanham, como me mimam? Dirás a Annedjim que sou uma esposa feliz.
Zeynel tem os olhos marejados de lágrimas – Prometei-me ao menos que, se algo correr mal me avisareis. Voltarei imediatamente.
-Prometo. Mas pára de atormentar-me ou ainda me zango. E quando eu me zango… Oh, Zeynel, lembras-te dos meus ataques de fúria quando era pequena? Dizias que o meu nariz crescia e ficava parecida com o sultão Abdul Hamid… Era remédio santo: eu acalmava-me… Anda e senta-te ao pé de mim e diz-me:crês que um dia voltaremos a ver Istambul?
Ele cala-se sabendo que Selma não espera resposta, que apenas precisa de partilhar as suas recordações. Ele é o seu único vínculo com o passado, por isso lhe irá fazer falta, talvez por isso seja melhor partir.
- Ia-me esquecendo: madame Ghazavi quer falar-vos
- Quer ir embora? Faz bem, não tem nada a fazer aqui.
A libanesa acabou por maçar Selma com as suas críticas, os seus perpétuos queixumes. E anda amuada desde que Zahra a repreendeu severamente, acusando-a de semear a discórdia. No fundo, Selma prefere ficar só. A sua vida agora é aqui. Deixa a saudade para os fracos e imbecis. Quer lutar. Há tanto a fazer neste país, tanto a fazer por este povo. Que importa a rani Aziza! A actual rani é ela.

DA PARTE DA PRINCESA MORTA, Kenizé Mourad, tradução de Maria Bragança, ASA Editores II, S.A., Porto, Novembro de 1999.
BEIJOS

11 comentários:

Anónimo disse...

Criança,
Criança é ser tudo como se fosse um adulto.
Criança não é só ser pequeno, mas é ser tudo.
Ah...
Que bom ser Criança...

HOJE É O DIA DA CRIANÇA E ENTAO MANDO-TE ESTE PEQUENO POEMA

BJOS

Anónimo disse...

Sempre que aqui venho levo comigo momentos que recordo em outros tempos. Levei o teu ling para o Terranostra :-)Um beijinho e tudo de bom

Anónimo disse...

oi.. boa tarde, gostei muito do teu blog, dos momentos k passei aqui a ler.. desejo te uma boa semana bjo

Anónimo disse...

Linda Papoila desejo-te um optimo fim de semana cheio de amor....beijinhussssssssss

Zeca disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Zeca disse...

Sim senhor Papoila, é por isto que acabei de ler que me dá prazer vir a este teu cantinho, gosto de ler o que escreves, recordações, emoções e tudo com muita ternura, sinto-me bem no teu cantinho. Desejo-te um excelente fim-de-semana. Beijos.
PS. O comentário anterior era meu mas apaguei-o em virtude de ter um erro

Anónimo disse...

Passei para desejar um bom fim de semana:)

Peter disse...

É interessante esta ideia de sugerires uma obra literária, inserindo um pequeno texto da mesma para aguçar o apetite.

Às vezes pergunto a mim mesmo se muitas pessoas que nos visitam e deixam os seus comentários, leram de facto os nossos artigos.

Bom fds*

APIUR disse...

Papoila,
Gostei de ler este post.
Bom fim de semana,
Beijos,
Apiur

Anónimo disse...

oi, amiga Papoula. venho agradecer a visita, retribuí-la e derramer-me no prazer de navegar neste canto da blogosfera. assim que possa, vou seguir a sugestão de leitura. pelo extracto, parece ser muito interessante, embora já tivesse ouvido boas críticas sobre o livro.

um * e bom fim-de-semana.

Luís Monteiro da Cunha disse...

Olá papoila linda

Passei para te agradecer as visitas e para te ler as novidades na tua nova casa.

Obrigada
desejo-te um belo fim de semana

Luís