Em 25 de Abril de 1974, Maria frequentava Medicina na Universidade de Lourenço Marques. Vivia com a mãe, seus dois meios-irmãos e a filha, no 6º andar do PH-9 no Bairro da Coop. A 19 de Abril o seu irmão fora preso em Lisboa com muitos outros estudantes e opositores ao regime numa reunião preparatória do Primeiro de Maio. Estava em Caxias, mas como se encontrava em liberdade com pena suspensa de uma anterior prisão a todo o momento esperava notícias da sua transferência para Peniche… Ia começar a “via-sacra” das medidas de segurança…
Por volta das 21 horas receberam de Portugal uma chamada telefónica de sua tia de que retiveram a importante mensagem:
Houve uma Revolução em Portugal! Liguem o rádio!
A 26 de Abril escreve a seguinte carta a seu marido, a cumprir serviço militar como alferes miliciano médico no Toto em Angola... Escreviam-se diariamente…
“L. Marques, 26/4/74
Meu Querido:
Hoje não tenho carta a responder-te. Contar-te o meu dia é contar-te que desde as 22 horas de ontem tenho vivido as maiores emoções desde criança. Não nos deitamos com o intuito de ouvir o maior número de notícias. Que mais contar-te? Que de certo modo lamento não estar agora no meu “puto”** contigo? Que no entanto vou aproveitar o que de novo existe para mais me interessar por Moçambique? Que pode afinal ser precisa a nossa presença no Portugal Novo?
Querido! Portugal Novo! Apreende todo o significado do que isto quer dizer? Amo-te! Viva Portugal! Penso que também tem ouvido as notícias! Aguardo as suas cartas que me contarão como passou estes momentos.
Compreende a minha excitação? Tanta que não dormi hoje. Ao entrar na Faculdade ouvia-se Zeca a cantar Os meninos do Bairro Negro… As aulas, transformaram-se em reuniões, enfim as pessoas saúdam-se de um modo novo.
O meu pensamento voa para todos os meus queridos que morreram sem verem este acontecimento, depois de anos e anos de luta que não podemos agora passar em vão.
Até amanhã.
VIVA PORTUGAL!
Amo-te, neste Portugal Novo.
Tua,
……….
P.S. Sempre é bom nascer portuguesa! Neste momento tenho orgulho de o ser.
Viva Portugal! “
**“puto” nome carinhoso dado em África a Portugal.
Se para mim és Abril
Por volta das 21 horas receberam de Portugal uma chamada telefónica de sua tia de que retiveram a importante mensagem:
Houve uma Revolução em Portugal! Liguem o rádio!
A 26 de Abril escreve a seguinte carta a seu marido, a cumprir serviço militar como alferes miliciano médico no Toto em Angola... Escreviam-se diariamente…
“L. Marques, 26/4/74
Meu Querido:
Hoje não tenho carta a responder-te. Contar-te o meu dia é contar-te que desde as 22 horas de ontem tenho vivido as maiores emoções desde criança. Não nos deitamos com o intuito de ouvir o maior número de notícias. Que mais contar-te? Que de certo modo lamento não estar agora no meu “puto”** contigo? Que no entanto vou aproveitar o que de novo existe para mais me interessar por Moçambique? Que pode afinal ser precisa a nossa presença no Portugal Novo?
Querido! Portugal Novo! Apreende todo o significado do que isto quer dizer? Amo-te! Viva Portugal! Penso que também tem ouvido as notícias! Aguardo as suas cartas que me contarão como passou estes momentos.
Compreende a minha excitação? Tanta que não dormi hoje. Ao entrar na Faculdade ouvia-se Zeca a cantar Os meninos do Bairro Negro… As aulas, transformaram-se em reuniões, enfim as pessoas saúdam-se de um modo novo.
O meu pensamento voa para todos os meus queridos que morreram sem verem este acontecimento, depois de anos e anos de luta que não podemos agora passar em vão.
Até amanhã.
VIVA PORTUGAL!
Amo-te, neste Portugal Novo.
Tua,
……….
P.S. Sempre é bom nascer portuguesa! Neste momento tenho orgulho de o ser.
Viva Portugal! “
**“puto” nome carinhoso dado em África a Portugal.
Se para mim és Abril
Onde te posso encontrar?
Se puderes conter
num só traço a minha cor…
Agarra o sonho que nos libertou
Agarra o sonho que nos libertou
quero cantar essa madrugada…
Se tens contigo um relógio…
um calendário…
pergunta ao tempoum calendário…
se é ainda possível guardar
a luz…os sorrisos…
que toda a gente encontrou…
a luz…os sorrisos…
que toda a gente encontrou…
Se num momento
me quiseres ainda olhar
sem partir…
sem partir…
Beijar-te é já um final…
Não sou flor de teu jardim...
Mas nunca esqueças…
Vem e traz simplesmente…
Um cravo!
25 de Abril de 2007
Que me desculpem todos os outros... Vou destacar os depoimentos dos que cumpriam serviço militar em Portugal ou em África…
"VIVA O 25 DE ABRIL!
"VIVA O 25 DE ABRIL!
Eu estava a cumprir o serviço militar obrigatório e por isso vejo com alguma relutância o despudor com que se fala da Revolução. Principalmente quando os que o fazem foram os grandes beneficiários de lutas em que nunca participaram. Talvez por isso cada vez me seja mais difícil guardar algum sorriso que não de escárnio.
Zé (do beco)" http://rbeco.blog.simplesnet.pt/
"No 25 de Abril estava eu no mato, lá longe onde sol castiga mais, na floresta do Maiombe - Cabinda. Quando tivemos a notícia do 25 de Abril entramos em prevenção. Aguardávamos ansiosos notícias do "puto" para saber mais pormenores, mas não descuramos a guarda pois tudo podia acontecer. Houve várias peripécias e um dia entrou pelo quartel um grupo do MPLA para conversações a fim de lhes ser entregue o quartel. Vi um jovem do outro lado. Olhei bem para ele e ele para mim. Caímos nos braços um do outro. Era um moço que tinha trabalhado comigo em Luanda e perseguido pela PIDE devido às suas ideias, se tinha alistado no MPLA.Sabes uma coisa papoila? Não acredito em deuses, mas naquele momento agradeci a "eles" o facto da ponta da minha arma nunca ter sido apontada para o peito dele.Hoje guardo uma recordação desse momento, um chapéu que troquei, e que coloquei na minha cabeça juntando o meu suor ao suor dele.
25 de Abril, Ontem... Hoje... E Sempre!
Tudo de bom
Marius70" http://marius70.blogs.sapo.pt/
"Recordações e homenagem a um dia histórico deste velho país.E já se passaram 33 anos, Maria!Parece que foi há tão pouco tempo...Perguntas no teu título: "Onde estavas tu?"Se quiseres saber, podes ir ler ao meu blog velho, o do Blogger, o post que eu escrevi em 25 de Abril de 2005, ainda o "Eu sou louco!" era uma criança.Acho que encontrarás um documento com algum valor histórico.
Marius70" http://marius70.blogs.sapo.pt/
"Recordações e homenagem a um dia histórico deste velho país.E já se passaram 33 anos, Maria!Parece que foi há tão pouco tempo...Perguntas no teu título: "Onde estavas tu?"Se quiseres saber, podes ir ler ao meu blog velho, o do Blogger, o post que eu escrevi em 25 de Abril de 2005, ainda o "Eu sou louco!" era uma criança.Acho que encontrarás um documento com algum valor histórico.
António" http://eusoulouco.blogspot.com/
25 de Abril SEMPRE!
19 comentários:
conheço esta tua passagem, h´aum ano, escreveste no meu blog em comment que eu puxei par post, lembras-te?
eu estava a dormir, era muito chavalo, não ouvi nada, aliás aqui na serra tudo era e é calmo...
bom dia de liberdade
sabes, hoje há uma censura tao má como a anterior, o "politicamente correcto"
mas, eu sou suficientemente inteligente para me portar bem, mas gosto de ser inconveniente...adoro...
ps. qual ácaros, qual carapuça... são horrendos e se eu enterrá-los ficarás com essa culpa para o resto da vida... vá lá, escolhe um branco e diz aí em casa que é um gatinho :)
abtazo
Belíssima e terrível imagem do Portugal do antes!
Um abraço grande!
Querida Papoila!
Recordações e homenagem a um dia histórico deste velho país.
E já se passaram 33 anos, Maria!
Parece que foi à tão pouco tempo...
Perguntas no teu título:
"Onde estavas tu?"
Se quiseres saber, podes ir ler ao meu blog velho, o do Blogger, o post que eu escrevi em 25 de Abril de 2005, ainda o "Eu sou louco!" era uma criança.
Acho que encontrarás um documento com algum valor histórico (agora que sou destaque no Sapo fiquei assim, vaidoso! ah ah ah).
Obrigado pelo teu comentário.
Haverá uma parte III d' "O tímido" mas fica a dúvida: o rapaz consegue ou acaba por dar um tiro na cabeça?
eh eh
Beijinhos e viva a Liberdade
não és flor do jardim dele?
claro que não, o jardim está lleno de ervas daninhas e tu és uma tulipa, yayaya
liberdade, quem a tem llama-se sua, eu não tenho liberdade de cortar tulipas, yayayaya
liberdade é vender pela net monstros, ou dar, como é o meu caso e as pessoas aceitarem tal encomenda...
ps. já só tenho um preto, muito assustador, está sempre a fazer: uuuuuuuuu, que está rouco, só to mando se deres-lhe pastilhas para a garganta "Euphon", vale?
Recordações de vidas intensas e diferentes, para quem aquele dia de há 33 anos era mesmo muito especial...
Beijos.
ola linda!
quando se deu a revolução... eu não estava cá... nem sequer me imaginava vir a este mundo... ouço historias e estorias... de um dia tao importante para Portugal... mas que tao poucos sabem o seu significado, apenas q é mais um feriado para ficar em casa... ouço estorias de o quanto foi bom... mas tb ouço estorias da ma organização q se fez sentir depois... a minha opinião... não sei... não vivi para te-la... mas ouço, entendo e respeito a de cada um... afinal é para isso q tantos lutaram... pela democracia...
bjos sempre doces
Olá Papoila
Ao contrário do que escreveste no meu «Império Romano» nós já somos "velhos" conhecidos.
No 25 de Abril estava eu no mato, lá longe onde sol castiga mais, na floresta do Maiombe - Cabinda. Quando tivemos a notícia do 25 de Abril entramos em prevenção. Aguardávamos ansiosos notícia do "puto" para saber mais pormenores, mas não descuramos a guarda pois tudo podia acontecer.
Houve várias peripécias e um dia entrou pelo quartel um grupo do MPLA para conversações a fim de lhes ser entregue o quartel.
Vi um jovem do outro lado. Olhei bem para ele e ele para mim. Caímos nos braços um do outro. Era um moço que tinha trabalhado comigo em Luanda e perseguido pela PIDE devido às suas ideias, se tinha alistado no MPLA.
Sabes uma coisa papoila? Não acredito em deuses, mas naquele momento agradeci a "eles" o facto da ponta da minha arma nunca ter sido apontada para o peito dele.
Hoje guardo uma recordação desse momento, um chapéu que troquei, e que coloquei na minha cabeça juntando o meu suor ao suor dele.
25 de Abril, Ontem... Hoje... E Sempre!
Tudo de bom
Oi Maria,
bom feriado 25 de Abril.. eu ainda não andava por cá... mas sei k p mts este dia foi especial, marcante e decisivo... foi um virar de página na história de Portugal e dos portugueses...
A todos desejo um bom feriado...
jinhos
papoilas, desde que não sejam as saltitantes...
quando era miúdo, na serra cresciam muitas papoilas, o campo quedava vermelho, hoje há poucas, espero que não andes a furtar papoilas à serra...
juramentos, yayaya
nós aqui na serra, desde há muito consideramos que doutor é médico e pouco mais, embora há cada gajo... nem nos deixam falar: "quem é o médico? não precisa de exames.." é por isso que qq maleita é curada com ervas ou copos, estes t~em um efeito mais rápido, yayaya
por fala nisso, está-me a doer as costas, vou para os copos
Estava em Lisboa e frequentava o 2º ano na ECVB (8º ano actual) ali mesmo no Largo do Carmo.
Nesse dia tive que voltar para casa porque havia muita confusão e ainda não me tinha apercebido do que se estava a passar. Só mais tarde soube.
Em 1974 estudava em Paris...
Como militar do 25 de Abril, obrigado papoila pelo destaque dado ao meu comentário. Infelizmente muitos camaradas tombaram numa guerra inglória.
Hoje vêem-se, pavoneando-se na Assembleia com um cravo na lapela em fatos de fino corte italiano, gente que no 25 de Abril estava em todo o lado menos no sítio que deveriam estar... na rua a defender os ideais de Abril.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
Tudo de bom
Eu inda n andava por ca.... mas adoro ouvir as historias k os meus pais me contam do 25 de abril...
O meu pai tb esteve no ultramar...
Viva o 25 de abril!!!
bj
Olá linda!
Venho à corrida apenas para te dar um grande beijo....
Sente-o....Chuaack!!!
Ahh estas "estórias" de Abril!!!
Já fui.....
Eu sou livre...sempre o fui...sempre serei...!
Doce beijo
Vim ao teu jardim de papoilas e dei com um cravo :-)
Onde estava eu em Angola Sá da Bandeira!
Um bj Sony :-)
Coincidencia depois vim para Peniche!
Onde permaneci cerca de 10 anos!
onheço bem o Forte de Peniche...fiz um trabalho sobre ele...
àguas passadas não movem moínhos!
Um bj Sonia
Ola:
este ano no 25 de Abril, estava em paris, tinha ido visitar os meus pais, e quando andava de carro com o mau pai ia ouvindo a radio portuguesa, falavam do 25 de abril, perguntavam aos ouvintes como o viveram em 74, o que sentiram e o que representava e as respostas seguiam-se umas mais surreais do que as outras... poucos davam respostas logicas ou concretas.
"ora eu no 25 de abril ainda não tinha nascido, por conseguinte, não me recordo nem sei do que se trata..." dei comigo a sorrir com trizteza diante da resposta de um homem de 30 anos, nao resume a falta de cultura de todo um povo, é verdade, mas resume o desinteresse pela historia do pais, porque eu também nao tinha nascido no tempo do D. Afonso Henriques e nao é por isso que nao sei quem é!!!
Eu tinha dois anos em 74, vivia num canto perdido do Minho, penso que que o que me afectou mais não foi o que se viveu antes do 25 de Abril, mas a diferença brutal entre Portugal e França que depois constatei! Esperava que a liberdade que essa revolução proporcionou nos aproximasse dessa europa mais rica e mais civilizada, e enfim... os meus sonhos ainda andam longe de se realizarem, mas eu continuo à espera, nem sou de desistir de sonhos :)
Bjtos
Olá Papoila...
Tardo mas não falho...
Em primeiro lugar os meus parabéns pelos awards todos que recebeste...as tuas palavras merecem pela grande sensibilidade que transmitem...
Pela grande diversidade que nos ofereces...é isso que te distingue dos demais...
É por isso que foste escolhida para seres a flor residente do Cheers...
Papoila, quero agradecer-te o award...quero agradecer-te o teres-te lembrado de mim...!
Quero agradecer-te o acompanhamento que tens feito do meu percurso pela blogosfera...
...vamos-nos encontrando por aqui sempre lado lado...no meio destas letras todas...
Pensar...
Já fiz o meu post do award lá no meu espaço...
Auto-nomeei-me...
Irreverências de magia...!
Um big beijo para ti...
A um até...aqui ali, acolá ;)
Estava na tropa em Angola Cidade do Luso Luena.
Só no dia seguinte soubemos da notícia e só o comandante ficou satisfeito. Não foi nada bom para quem ali vivia a 22 anos.
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