O papel do Faraó no Antigo Egipto
Considerado filho de Rá, o deus Sol, o Faraó incarna o próprio deus vivo na terra acima de todos e de todas as coisas. Tudo lhe pertence quer as terras quer os homens. Representa os homens junto dos deuses, a que pertence, e os deuses junto dos homens. A sociedade egípcia organiza-se como uma teocracia que entrelaça o papel do faraó na vida política, económica e religiosa. O faraó era o responsável por todas as actividades do país, o sumo sacerdote de todos os deuses, a quem devia servir diariamente em todos os templos, ele era o Senhor do Ritual. Como por todo o país eram inúmeros os templos, os actos de culto e respectivas oferendas diárias que deviam ser da inteira responsabilidade do faraó, este fazia representar-se por sacerdotes que actuavam em seu nome e cada um deles culminava na sua pessoa. Esta missão passava muitas vezes de pais para filhos mas o faraó poderia terminar com a sucessão em qualquer altura. Em todos os templos e túmulos as gravuras mostram que a função sacerdotal a par da governação do reino pertencia ao rei. Os sacerdotes não passavam de funcionários civis especializados, purificados, na função complexa dos diversos rituais de o representar nos templos dos diferentes deuses.
O faraó devia preocupar-se com as cheias anuais do Nilo, pois elas significavam a prosperidade para o país que a ele se devia, pois os egípcios confiavam que o rei exercia as suas actividades de molde a garanti-la. Devido à inconstância destas, o faraó tinha a responsabilidade de armazenar o máximo de alimentos possíveis nos períodos de abundância, para poder distribuir os excedentes em qualquer situação inesperada. O rei tinha de estar informado com exactidão dos recursos disponíveis, para poder distribuir os bens necessários em eventuais épocas de crise, e evitar que a fome atingisse a população. Essa função político-administrativa de controlo de alimentos por parte do faraó era muito importante, pois uma crise de alimentos podia vir a desestabilizar o regime.
O sistema político não possuía leis escritas e nem era necessário que as houvesse já que o estado se sintetizava na pessoa de um deus. O faraó, com a sua palavra divina, determinava os objectivos do governo, os meios para os atingir e a estratégia a seguir. De acordo com o dogma, só ele era a autoridade e o único responsável pela sua propriedade — o país inteiro. Se o rei tivesse êxito em trazer fertilidade ao solo, manter um comércio proveitoso e garantir a paz para um desenvolvimento interno normal, teria feito um bom governo. O faraó estava em toda parte e fazia tudo mas dado ser impossível realizar todas as funções oficiais sozinho, delegava-as em simples mortais que actuavam por ele em seu nome. O vizir encabeçava o corpo de funcionários, e a seu lado estava o tesoureiro, o director da casa do tesouro, o director dos armazéns, o grande mordomo real, o generalíssimo, os capatazes, os cobradores com a atribuição de receber e contabilizar os impostos e taxas. Os escribas formavam a ampla base do aparelho administrativo.
O filho mais velho da rainha (esposa do faraó) era o herdeiro legítimo do reino, mesmo se fosse mulher, e um filho varão de uma outra sua mulher, esposava a herdeira para legitimar o seu direito ao trono. O casamento entre irmãos era a uma forma de união frequente na família real, mas não impediu que mulheres subissem ao trono como faraós como por exemplo Hatchpsut.
Tudo o que cercava o faraó visava demonstrar o seu poderio, a sua essência divina que o distinguia do comum dos mortais e reforçava a ideia de ser invencível. O seu traje também tinha esse objectivo. Usava um saio plissado de linho fino tecido com fios de ouro e prata preso por um cinto de couro com pedras preciosas e uma fivela de ouro com o seu nome. Um ceptro em forma de gancho, e o chicote, para punir os culpados. Cortava o cabelo e a barba mas usava no queixo uma barba postiça pontiaguda e um cabeção sobre os ombros e a nuca. Na fronte, sobre a coroa, a cobra naja conhecida como uraeus, foi a marca dos faraós durante todo o período dinástico. Nos momentos solenes usava duas coroas, a branca e a vermelha que representavam respectivamente o Alto e o Baixo Egipto, ou uma coroa azul parecida com um elmo. Outras vezes usava uma forma de barrete de pano às riscas com a forma de coroa dupla.
Os faraós, reis divinos e sacerdotais possuíam uma dimensão humana e é isso que os torna interessantes. Como guerreiros comandavam nos campos de batalha à frente de exércitos.
Para além do seu papel divino em vida deveria continuar a ser um deus governante na morte. A morte não trazia mudança para a vida do rei: como deus na terra, ao morrer, incorporava-se no círculo dos deuses. Mas o caminho para o céu onde viviam os deuses, não era fácil e o faraó teria de ultrapassar complicados obstáculos para alcançar a felicidade e o êxito na outra vida, onde iria renascer e alcançar a imortalidade. Os seus túmulos começavam a construir-se ainda em vida na margem oeste do Nilo, o lado onde o Sol se põe. Desde a I dinastia os túmulos dos faraós foram estruturas elaboradas, onde a câmara mortuária para além do sarcófago era repleta de tesouros e objectos pessoais. As paredes eram revestidas de textos mitológicos e imagens destinadas a facilitar a trajectória do rei no seu caminho para a imortalidade.
Bibliografia
DONADONI, Sérgio. O Homem Egípcio. Editorial Presença. Lisboa. 1994
SOUSA, Rogério. EM BUSCA DA IMORTALIDADE NO ANTIGO EGIPTO. Edições Ésquilo. 1ª Ed. Impresso em Rainho & Neves Lda. Santa Maria da Feira. Junho de 2012
TAVARES, António Augusto. CIVILIZAÇÕES PRÉ-CLÁSSICAS. Edições da Universidade Aberta. Lisboa, 1995