terça-feira, dezembro 26, 2006

Brinde para 2007!


Em silêncio os meus secretos desejos
transformam-se em fogueira
que acende cada um de meus poros
Sinto-te tocar-me no ventre
que se incendeia de desejo…
Esqueço o tempo, esqueço o espaço
esqueço o teu nome, esqueço o meu
ao sentir os teus lábios
a delinear o perfil dos meus…
Sinto teu desejo na língua
e sacio-me de teu sabor
que se mistura ao meu…
Espero o momento
de encher cada ausência
e com o teu desejo…
apagar o incêndio que me lavra…

BEIJO MEU PARA TI!

BEIJOS!

FELIZ ANO NOVO de 2007!!!!

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Um Natal em Angola... III


Seu marido saiu para o quartel e levou a marmita para que o impedido trouxesse a refeição. Maria ficou em casa a desfazer as malas e a arrumar os poucos livros e as cassetes que levara. Ouviu bater à porta, abriu-a e um velho negro com um prato cheio de fruta… bananas, laranjas e mangas, estendeu-lho e disse:
“São para sinhora e minina doutor muito amigo de Malungo! Sinhora e minina precisam de fruta.” Vinha acompanhado por um jovem que não aparentava mais de 12 anos e acrescentou:
“António, meu filho, disse que quer trabalhar para sinhora e sinhora precisa, para lavar e passar a roupa e tomar conta minina Todas sinhoras tem de ter mainato Ele combina com sinhora eu vou na bic ao laranjal.”
E apesar de repetidamente afiançar ao rapazinho simpático que não precisava de ninguém para a ajudar, nada o demoveu e acabou por combinar um pagamento que mais tarde provocou polémica entre as “esposas” por ser o dobro do que recebiam os outros rapazinhos… Exprimia-se num português fluente e pediu para ler todos os jornais que Maria levara… Iam entender-se naquela temporada. Quando seu marido chegou já os três montavam no chão um dos puzzles que ele possuía. Não se mostrou admirado e disse:
“Já cá estás António? Eu bem te disse que convencias mais depressa a senhora que eu próprio…”
“António é um bom menino, o padre Zé ensinou-o a ler e ele aprende tudo enquanto o diabo esfrega um olho… Vai dar-te uma boa ajuda minha querida.”
À tardinha o céu carregou-se de nuvens e começava a chover torrencialmente. Maria encantada aspirava o aroma quente da terra molhada quando o padre Zé entrou…A porta estava sempre aberta durante o dia.
“Disse que passava por cá mais tarde e aqui estou! Já disseste alguma coisa à tua mulher ou sou eu a falar com ela?”
Maria começou a ficar intrigada e rindo perguntou:
“Mas vocês explicam-me o que se passa? Vocês combinaram tudo e estão à espera que eu colabore em quê? Que suspense!”
O padre Zé preocupado com a situação de carência que se vivia no quartel e na sanzala estava a levar em conjunto com seu marido uma campanha de vacinação e esclarecimento alimentar. O seu marido tinha o tempo muito ocupado pois deslocava-se a outros três aquartelamentos: ao Loge em coluna militar, e de avioneta ao Bembe e a outra localidade na costa que nunca aprendeu o nome, para prestar cuidados médicos. Os dois tinham pensado que nesse mês podiam contar com a ajuda de Maria nesse trabalho… António protegido do padre Zé seria o elo de ligação porque falava correctamente português e tinha o encargo de cuidar da menina enquanto Maria fizesse a consulta na sacristia da pequena capela da sanzala.
Maria olhou-os fixamente e com uma gargalhada disse:
Mereciam que eu vos ralhasse mas sabem que sou incapaz de dizer que não a um projecto desses… Fica no entanto bem claro que eu ainda não sou médica e há coisas que não me atrevo a decidir sozinha… Por isso, senhor alferes miliciano médico meu marido, tem de estar disponível para os casos que lhe enviar… É para começar amanhã?”
“Nós sabíamos que essa ia ser a resposta. Pessoalmente fico-te muito grato!” retorquiu o padre Zé. “Outro assunto, achas que a Iria tem a criança antes do Natal? O meu maior desejo é que isso aconteça para o baptizar na missa do galo! E se isso acontecer, quero-vos na missa!”
“Isso não prometo! Se já sabes assim tanto de mim, deves saber também que não sou de missas…”, respondeu Maria.
“Tudo me leva a crer que sim, que nasce por estes dias”, respondeu seu marido.
Quando se despediu Maria quis saber que nascimento era aquele tão desejado pelo padre, e ficou emocionada quando seu marido lhe contou que Iria era uma jovem negra da sanzala que engravidara de um dos soldados. Pediram ao padre Zé que os casasse e viviam na primeira casinha junto à capela da sanzala.
“Mas ele é negro também?” perguntou Maria.
“Não, é de Vila Real!” respondeu o marido.
No dia seguinte o jantar foi mais uma vez esparguete com atum, era a terceira refeição que Maria fazia no Toto e começou a perceber porque seu marido estava tão magro. Não conseguiria repetir muito mais vezes aquela ementa, bem teriam todos de comer papas Nestum, fruta e leite.
Depois de tudo arrumado seu marido disse-lhe.
“Vou até à enfermaria, parece que a Iria está com dores e tenho de a observar, se me demorar mais é porque está em trabalho de parto. Até logo!”, despediram-se com um terno beijo.
Já estava deitada quando ouviu bater à porta e alguém chamava aflito: “Senhora doutora! Senhora doutora!”
Quando abriu o soldado maqueiro com uma certa preocupação disse-lhe:
“O nosso alferes pede que a senhora doutora o vá ajudar à enfermaria porque o senhor padre Zé perdeu os sentidos e a Iria está a dar à luz!”
“É só mudar de roupa e vou, mas a menina está a dormir, e eu não a deixo aqui sozinha!”
“A senhora doutora não se preocupe, a menina vai ao meu colo e deitamo-la lá. Nem vai acordar!”
Chegados à enfermaria deitaram a menina numa caminha à entrada da sala de partos e assim que ela entrou seu marido disse-lhe:
“Vê o que se passa com o Zé! Quis assistir ao parto e desmaiou está ali deitado e eu não posso cuidar dele. A Iria está em período expulsivo e o bebé nasce a qualquer momento.”
” E tu deixaste o Zé assistir ao parto? Um parto é violento, é natural que tenha desmaiado, deve ser uma quebra de tensão e açúcar porque aqui come-se muito mal.”
As suas suspeitas confirmaram-se e depois de o reanimar o padre Zé, Maria repreendeu-o por ir assistir ao parto. Conversavam quando se ouviu o primeiro choro e ambos correram para ver o recém-nascido que era um lindo e forte rapaz de tez clara. Emocionados deram os parabéns ao pai e dirigiram-se à mãe para a felicitar também.
Em breve chegou a Ceia de Natal que foi na messe de oficiais em confraternização com os militares e as poucas mulheres e crianças que os acompanhavam. A ceia foi frugal e como única sobremesa um prato de leite creme e uma rodela de abacaxi, mas viveu-se o espírito de Natal em família alargada. Preparavam-se para seguir para a missa e Maria seu marido e a menina despediram-se e dirigiram-se para sua casa. Aí chegados, sentaram-se a ouvir música. Maria ouviu ao longe o sino da igrejinha a tocar. O padre Zé tinha-lhe pedido mais uma vez que fossem à missa pois ia celebrar o baptismo do bebé que tinha nascido há uma semana.
Maria levantou-se e disse decidida.
”Vamos à missa! O Zé faz tanta questão e mal não nos vai fazer nenhum. Ele é um padre progressista, está de castigo por aqui há mais de quatro anos pelas suas atitudes. Acabo por ser mais sectária se não for à missa… Vamos embora!”
Seu marido que tinha uma educação católica ficou satisfeito com a decisão e chegados à Igreja foram para a primeira fila.
A missa decorreu sem que Maria prestasse grande atenção até ao momento da homilia… Ouvia com atenção as palavras do padre Zé que com dotes de oratória invulgar e emocionante começou a comparar o significado de estar a baptizar uma criança nascida em teatro de guerra filha de um soldado e de uma natural que se tinham enamorado e casado. Comparava esse nascimento com o menino que nascera em Belém cerca de 2000 anos antes para que os homens vivessem em paz e unidos pelo amor fraternal. Maria olhava-o com admiração e preocupação porque no seu entusiasmo o padre estava a colocar-se em risco. Se continuasse naquele tom ia arriscar-se a ser preso e castigado como já lhe tinha acontecido noutros quartéis.
Neste momento a sua menina que fizera anos a 27 de Novembro perguntou:
“Mamã isto é uma festa?”
“Sim minha querida é uma festa!”
“Posso cantar os parabéns a você?”
“Podes sim meu amor…”
A menina da primeira fila começou a entoar alto:
“Parabéns a você…”
Nesse momento o Padre Zé que já “voava” por divagações que Maria já nem ouvia angustiada, com receio de o ver preso suspendeu a oratória, olhou-as e disse.
“Isso minha menina estamos aqui reunidos para comemorar o nascimento de Jesus, saudemo-lo pois cantando a uma sua voz… Parabéns a você!”
Maria não conseguiu conter as lágrimas quando naquela igreja perdida no mato todos festejaram o nascimento do Menino Jesus com os “Parabéns a você!”... Nesse ano foi o cântico de Natal mais apropriado à celebração do seu nascimento...





FELIZ NATAL
BEIJOS!

sábado, dezembro 16, 2006

Um Natal em Angola...II


No dia seguinte pela manhã partiram num avião militar bimotor para o Toto. Maria durante a viagem não parava de conversar sobre as sensações que o passeio da véspera lhe causara… As ruas de Luanda cheias de árvores frondosas, a praça da Maria da Fonte, a Avenida Marginal, a Ínsua onde tinham jantado camarão e sua filha repetia:
“Descasca outro bicho desses para mim que eu gosto, Mamã!”
Aquele mar! O passeio pela praia à noite com o mar pelos joelhos e a água como caldo… E as pessoas… o colorido, os sorrisos, as gargalhadas e os bebés tão lindos. Seguramente África tinha uma magia que a encantava, que a seduzia, que a prendia!
Com cuidado seu marido advertiu-a:
"Maria! O quartel fica no meio do mato, num velho hotel de caçadores, rodeado de arame farpado, e tem uma sanzala anexa…Fica a 3km de uma base aérea distância que vamos percorrer por uma “picada”no meio da savana, de jipe … Não te iludas!"
Maria não pôde deixar de sorrir enquanto pensava que seu marido sempre receou a sua capacidade de “voar” em pensamento e estava a pintar-lhe o quadro com as cores mais negras para que não se desiludisse…
Aterraram na Base aérea onde um jipe os esperava e seguiram pela “picada” poeirenta, ladeada por verdes e finas plantas cerradas como muros. Ao longe avistavam-se montanhas e numa colina próxima um edifício cor-de-rosa rodeado de arame farpado chamou-lhe a atenção
“Isto é grandioso! Que perfume! Isto são canas? Aqui há animais selvagens? O que é aquele casarão?”
“ Isso é capim! O quartel! Estamos a chegar!”
A “picada” desembocava num largo cruzado por uma rua larga de terra batida e na sua extremidade Oeste ficava o quartel que lhe pareceu frágil e desprotegido. Na outra extremidade do lado Este numa outra colina avistavam-se uma série de cubatas e entre eles duas filas de casinhas térreas com uma porta e duas janelas. Ao longe do lado Sul e do Lado Este a imponência de verdejantes montanhas. O que mais impressionou Maria foi a magnitude do silêncio cruzado aqui e ali pelo roçar das asas de bandos de pássaros.
De cada lado do portão de madeira as guaritas de dois sentinelas e a cerca de madeira e arame farpado onde de onde em onde se viam outras guaritas.
Chegados ao quartel no grande pátio da parada apearam-se e seu marido disse-lhe.
“Vamos primeiro à messe de oficiais para te apresentar, e vamos ao meu quarto e à enfermaria para ficares a conhecer, e depois vamos para casa.”
Maria deu a mão à menina e esta apontando a G3 de um militar perguntou:
“Para que serve aquilo?”
“Para matar os mosquitos…”,
respondeu-lhe o pai.
Quando entrou na sala da messe levando sua filha pela mão notou que todos os olhares se dirigiram para elas. Sorriu com timidez. A menina muito lourinha e engraçada dirigiu-se a um dos oficiais que estava de saída apontou para a arma e perguntou:
“Tu também matas* esquitos* com isto?”
“Sim minha menina isto é para matar mosquitos, pegou-lhe ao colo e continuou, estava à tua espera sou o capelão aqui do quartel e muito amigo do papá. Sabia que vinhas hoje… Afinal és ainda mais bonita do que ele contava. E a tua mamã também.”
Maria sorriu mais desinibida porque afinal os elogios que sempre a incomodavam vinham do padre. Já sabia da grande amizade entre ele e seu marido pelo o que este lhe contava nas cartas. Percebeu que embora nunca se tivessem visto ela já o conhecia pelas descrições e ele facilmente a reconheceria a ela e a sua filha pois seu marido tinha na parede de seu quarto um enorme poste com a foto das duas.
“Tenho que sair, vou à sanzala! Logo quero conversar convosco. Passo lá por casa… Até logo!”
Depois das apresentações e dos cumprimentos com conversa de circunstância o major comandante do aquartelamento disse a Maria.
“O seu marido estava ansioso pela vossa chegada. Estou certo que a senhora doutora vai ter aqui uma boa estadia e eu e a minha mulher estamos disponíveis para lhe prestar as informações que necessitar.”
Agradeceu com um sorriso mas para si pensou que poucas seriam as dúvidas que teria de esclarecer com aqueles dois.
Fez uma breve visita ao quartel e à enfermaria e foram até uma das casas que tinha visto à entrada.
A casa, de chão de cimento vermelho tinha um quarto de casal, uma sala com um divã sofá e uma pequena casa de banho de chuveiro, sanita e lavatório.
Finalmente juntos e sós, Maria abraçou seu marido e exclamou:
“Vou gostar de aqui estar contigo. Não te preocupes com as instalações. O fundamental é estarmos aqui os três! Como é com as refeições? Fazemos aqui ou vamos à messe? Eu preferia que as fizéssemos aqui!”
“Já pensei nisso e já providenciei a comprar esta marmita para se ir buscar as refeições à messe. Não quero que te preocupes a pensar em cozinhar, até porque não sei bem o que possas cozinhar… Desde há um mês que as nossas refeições são esparguete com atum de conserva, o MVL foi cortado e não temos arroz, e há muito pouco açúcar, as batatas estão a ser guardadas para o Natal. Já me abasteci com uma lata de Nido das grandes e uma embalagem de papas Nestum para a menina. Estou a ficar preocupado, porque os soldados ainda comem pior… Posso dizer que se está a viver um período de verdadeira fome…”


(continua)

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Um Natal em Angola...


Sentada no avião que partiu de Lisboa às 24 e 20 do dia 14 de Dezembro Maria acariciou a filha, sorriu-lhe e abraçou-a enquanto lhe apertava o cinto. Tinham a viagem planeada para a semana de Natal mas aquelas eleições de Outubro de 1973 e as sucessivas prisões de amigos próximos anteciparam-na... Fora só o tempo de preparar algumas roupas de Verão, arrumar a casa e tratar da transferência para a Universidade de Lourenço Marques que nem sequer sabia se lhe fora concedida… Decidiu fazê-lo porque não podia correr o risco de uma possível prisão por actividades como opositora ao regime, e contava com a ajuda de sua mãe que lá residia. Nada mais desejava que cair nos braços do marido que não via desde que fora mobilizado para Angola em Maio… mas a sua vida iria mudar radicalmente e só agora descobrira os laços que a ligavam ao Porto… Na sua última carta antes da partida dizia-lhe:
“… penso não ter esquecido nada, fiz os possíveis por isso! Mas se como é “habitual” eu me tiver esquecido, não me ralhes! Estou preocupada com receio que a viagem seja cancelada, com medo da viagem em si, com medo de ter saudades do que deixo, enfim preciso de um marido meigo, muito terno, muito amigo quando aí chegar. Faltam só 4 dias para te abraçar! Quero-te!”
A menina perguntou: - Vamos no “vião” ver o”catel” onde o papá está peso?
-Vamos minha querida, mas tens de dormir…Encosta – te à mamã…
Quando a porta se abriu e chegou às escadas Maria teve a sensação de entrar numa panela de pressão e rapidamente despiu o casaco que em Portugal lhe parecia fresco… Inclinou-se para a sua menina para lhe desapertar a camisa e nessa altura a criança muito pálida inclinou-se e vomitou enquanto exclamava: - Está tanto calor mamã!
Ajudada pelo comissário de bordo limpou-lhe a carinha e refrescou-a. Na varanda do aeroporto o seu marido acenava e Maria e sua filha emocionadas acenavam também… Já pouco tardava para se abraçarem e beijarem. Depois de recolhida a bagagem, na sala de espera caíram nos braços um do outro em lágrimas enquanto Maria repetia
-Que saudades! Estás tão magro meu querido!
Esperava-as num cabriolet alugado e durante a viagem até ao Hotel Central na Praça do Pelourinho, Maria não se cansava de repetir que necessitava de um bom banho para poder maravilhar-se com a cidade que já a encantava.
“-Este perfume! Que árvore é aquela? Tantas flores! Olha a baía! Olha o mar que azul!”
Depois do banho e de trocarem de roupa entre abraços e beijos saíram para conhecer Luanda numa primeira volta a pé, era necessário ir ao banco trocar algum do dinheiro que Maria levava…
-Estranho!? Mas aqui não circula o escudo? Tu não estás mobilizado como Alferes Miliciano Médico ao serviço de Portugal?
- Minha querida a moeda aqui é outra e em Moçambique outra ainda, embora sejam escudos… e não faças perguntas Maria… contem-te por favor… sabes que fui mobilizado pelas tuas actividades na Associação Académica… Maria é um favor que te peço, contem-te!
Maria sorriu e beijou-o enquanto exclamava:
-Vou fazer os possíveis mas tu sabes que às vezes me é muito difícil passar indiferente ao que não compreendo… Mas prometo ter cuidado com o que digo… Toma lá um beijo…
Enquanto percorriam a baixa de Luanda Maria não parava de admirar o colorido das roupas das mulheres, o sorriso aberto e franco das mesmas a doçura dos rostinhos dos bebés que transportavam nas costas e embora ele estivesse com alguma pressa fez parar o marido um sem número de vezes… Numa delas uma velha e sorridente vendedora preta vendia um colorido fruto em tons de vermelho com um aroma intenso e doce que transportava num alguidar de lata… Num português arrevesado perguntou-lhe:
-Senhora queres comprar? É doce e não tem fios…
Maria não conhecia o fruto mas o seu aroma era tentador e não resistiu a pedir a seu marido para parar, que lhe respondeu:
-É manga, não presta… tem muitos fios e não vais gostar…
Foi irresistível a gargalhada que a velha e simpática vendedora deu nesse momento enquanto dizia.
“- Xi patrão sinhora não sabe o que é manga? Dá esta a ela para provar que sou eu que dou!”
Maria pegou no fruto comovida enquanto a velha vendedora lhe estendeu outro fruto enquanto dizia:
“-Esta é para a minina, sinhora… não paga não precisa pagar sinhora sou eu que dou… sinhora e minina primeira vez que prova manga!” Seus olhos encheram-se de lágrimas quando a velha vendedora recusou receber dinheiro pela sua oferta enquanto dizia…
“-Não paga sinhora Julieta fica ofendida se sinhora quer pagar! É oferta de Julieta!”
Naquele momento Maria sabia que o seu elo com aquele continente que pisava pela primeira vez tinha raízes profundas que a enchiam de emoções difíceis de explicar e transmitir. Foi com prazer que limpou a manga ao seu lenço de mão e que apesar das recomendações do marido pelo risco de diarreias chupou pela rua o saboroso fruto que a velha Julieta lhe oferecera. A menina também provava com prazer…
-Tu não gostas meu querido?
-Não! É demasiada perfumada e almiscarada… e tem muitos fios. Temos de despachar-nos que amanhã o avião para o Toto é de manhã e ainda quero mostrar-te Luanda!

…(continua)

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Sonho com a noite...

Sonho com a noite
em que as palavras tenham rosto
e o silêncio seja ocupado
pelos murmúrios da tua voz
a sussurrar que me amas...
Vivo com a intenção
de sentir o trémulo
dos meus lábios ansiosos
pelo roçar de tua boca…
Por um sorriso teu
dedicado a minha alma
espero, como também
pelo instante
de reflectir-me nos teus olhos
espelhos do meu amor…
Sonho a cada noite
com o esboço de
teu corpo junto ao meu.
Vestes meu corpo nu de amor
com a paixão das tuas carícias
embriagando os meus sentidos
com o mel da tua presença
Inflamando o desejo desmedido
por um dos teus beijos.
Desejo transbordante
do que podemos ser
amantes em holocausto de saudade
dos caminhos extraviados do amor.

Foto da tua roseira de que sou "guardiã" tirada a 7/12/2006


"Foi o tempo que passaste com a tua rosa que a tornou tão importante".
Saint-Exupéry

BEIJO MEU PARA TI! Hoje neste dia tão especial...
BEIJOS

terça-feira, dezembro 05, 2006

Vagueando pela infância...


Esta saudade vem do tempo em que as casas não eram prédios… e os limoeiros e as camélias rosas, brancas e carmim enchiam os quintais… Vem da minha casa de garota, da minha casa da rua da Alegria… De quando eu brincava com os meninos descalços da “ilha” do outro lado da rua… com bolas de meias velhas e bonecas de trapo vestidas de chita...
Do tempo em que depois de uma grande caminhada pela serra de Valongo me banhava nas águas do Ferreira lá na Ínsua, onde aprendi a boiar, sempre à espreita, com medo de ser sugada pelo remoinho da fraga…
Deve vir da seiva brilhante dos velhos passos, em que voltei carregada aos ombros por heróis esquecidos... Esta lembrança poderia ser bela e luzidia como um vitral, uma epopeia de risos de crianças a chilrear... Vem do nada… que tudo faz inventar… com calor para todos os frios... Vem, como não viria se acaso soubesse da sua inutilidade... Vem desde que aprendi a estar só no Mundo dos sós… Só como ilha deserta rodeada de gente por todos os lados, que aspira a ser península e te lança como ponte para que sejas istmo... E se a ponte é de papelão? E se a ponte, não for ponte, mas barco de ligação que aporta a outro cais? E se o cais não for cais mas recife e o barco naufragar? E se a ilha não for ilha, e não queira ser península? Pobres dos que não guardam em si a ingenuidade das crianças e dos amantes pois nunca poderão saber que no Porto há pardais que cantam…

BEIJO MEU PARA TI!
BEIJOS


sábado, dezembro 02, 2006

SCRIPTUM - O Manuscrito Secreto, leitura de Dezembro


Estava tudo a postos para uma memorável noite de gala. Pessoas das mais diversas cidades vieram assistir à Exposição dos Tesouros do Vaticano, no Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque Inesperadamente, quatro cavaleiros exibindo as insígnias da Ordem dos Templários invadem violentamente o interior do museu, semeando o pânico e a destruição, com um único objectivo: roubar um codificador medieval. Sean Reilly, agente do FBI, e Tess Chaykin, arqueóloga, assistem ao incidente e iniciam uma investigação com contornos perigosos, muito tensa que os faz mergulhar na história secreta dos cruzados e recuperar o último segredo dos Templários, algo que poderá vir a alterar irreversivelmente o cenário religioso de todo o mundo cristão… *Scriptum* O Manuscrito Secreto, é um thriller histórico e religioso empolgante, soberbo e inspirador. Pleno de acção, é um enredo com muitas reviravoltas cuja base assenta em enigmas, códigos secretos e uma bem arquitectada conspiração uma temática muito em voga hoje em dia. Descrições ricas, personagens bem desenvolvidas numa densidade narrativa com muito suspense articulam-se factos históricos com uma imaginação poderosa.

Raymond Khoury, original do Líbano estudou arquitectura na American University, em Beirute. Para se afastar da Guerra Civil mudou-se para Londres onde trabalhou no Banque Paribas Capital Markets. Numa viagem às Bahamas conheceu o responsável pelo desenvolvimento de guiões em Hollywood que o contratou como guionista .Foi o ponto de partida para a sua carreira cinematográfica e televisiva em Los Angeles e Londres, da qual se destaca a produção de séries na BBC. Actualmente Khoury reside em Londres com a esposa e duas filhas. Scriptum - O Manuscrito Secreto é o seu primeiro romance e tem vindo a descrever uma impressionante trajectória de sucesso na Europa e nos Estados Unidos e já foi publicado em mais de trinta países.

“Tess viu-se finalmente, no espelho comprido da casa de banho. Nunca estivera tão suja, descomposta ou pálida. Apesar de ainda ter as pernas a tremer devido à tensão, resistiu à necessidade de se sentar. Depois de tudo que acontecera hoje, se se sentasse, sabia que provavelmente durante um bom bocado não se conseguiria levantar. Sabia igualmente que o dia ainda não terminara, Reilly vinha a caminho. Ligara pouco depois de Vance se ter ido embora, e vinha aí a toda a pressa. Apesar de aparentar uma calma razoável, sabia que estava furioso com ela. E teria de lha dar umas boas justificações.
Novamente.
Só que desta vez era um pouco mais difícil. Teria de explicar a Reilly o motivo porque não voltara a confiar nele o suficiente para lhe pedir ajuda.
Olhou para a desconhecida no espelho. A loura alegre e confiante desaparecera. No lugar dela estava um farrapo, tanto física como mentalmente. As dúvidas pessoais assaltavam-lhe a mente. Recordou os acontecimentos do dia, questionando cada paso dado e admoestando-se por colocar a mãe e a filha em perigo.
Isto não é uma brincadeira, Tess. Tens que parar com isto. Tens de parar, e é já.
Enquanto se despia, sentiu a chegada das lágrimas. Resistira-lhes quando fora abraçar Kim depois de Vance se ter ido embora. Resistira a chorara nervosamente de riso quando Kim a repelira dizendo “Ugh, Mãe. Que pivete. Precisas de um bom banho.” E resistiu-lhes quando estava ao telefone com Reilly, certificando-se o tempo todo que a mãe e Kim não escutavam a conversa com ele. Por pensar nisso não se lembrava da última vez que chorara, mas neste momento, era mais forte. Sentia-se péssima tremendo tanto de medo como dos piores cenários hipotéticos que imaginara.
Para além de retirar a sujidade e o cheiro, aproveitou o duche para tomar algumas decisões. Entre elas que devia algo mais a Kim e a Eileen.
Segurança.
Ocorreu-lhe uma ideia.”
In SCRIPTUM – O Manuscrito Secreto, Raymond Khoury, Tradução de Maria Georgina Segurado, Editorial Presença, Lisboa, Abril de 2006 (pag. 167 e 168 de 388)