quarta-feira, março 18, 2009

o sono de Laura...

Laura estava recostada no velho sofá no meio do seu quarto pequeno mas decorado com muita delicadeza. Nunca faltavam flores frescas numa linda jarra de cristal colocada em cima da cómoda. Estava frio e por isso fechou a janela que estava entreaberta… cansada das noites de insónia, fechou por um momento os olhos e deixou-se embalar pelas recordações dos dias da meninice, de quando queria crescer e ser grande.
Chegaram-lhe imagens nítidas da longa fila para os sanitários no recreio grande da hora do almoço no colégio onde fizera a primária. Ela e Leonor no corredor que acabava nos lavabos. Ao fundo via-se o pátio com uma grande árvore e por baixo estava desenhada a macaca onde jogavam à patela. A dela uma bela pedra de xisto que avô lhe tinha arranjado e polido como as pedras da malha que dera ao mano. A directora parada à entrada dos lavabos agilizava o tempo e colocava ordem na fila e sem querer ouviu a conversa entre Laura e Leonor, que com entusiasmo e inocência, falavam da sua ansiedade em crescerem e serem maiores para poderem ser mães. Então directa e firme como sempre, a directora, disse-lhes que a meninice era o melhor tempo da vida, a maioridade era um sofrimento não só pelos problemas que lhes traria crescer mas também porque depois de crescer tudo se via de uma outra perspectiva. As meninas ficaram caladas, sem se atreverem a dizer o que quer que fosse, mas de olhos e bocas abertas pensaram ambas para si que devia faltar um parafuso à directora…
Laura saiu do sonho e voltou ao presente despertada pelo ruído do apito da chaleira de água a ferver. Tinha deixado na cozinha a chaleira a aquecer água para preparar um café e a caneca estava já pronta no tabuleiro. Era penoso mover-se quando lhe atacava o reumatismo. Fazia-o mas com dificuldade e esforços. Sempre a mesma dor nos ossos. Não era debalde que tinham passado mais de 50 anos desde aquelas conversas infantis. Como estaria agora a Leonor? Tinha de lhe ligar. Levantou-se do sofá com visível esforço e dirigiu-se à cozinha em passos lentos e curtos. Não deixou de sorrir de lado enquanto pensava com certa melancolia que a velha directora tinha razão… Sem duvida alguma, esses anos de meninice tinham sido os melhores da sua vida… A vida tinha passado muito depressa, tinha envelhecido mas voltaria a viver tudo de novo, todas as suas lutas tinham valido a pena...
PARA TI UM BEIJO MEU!
BEIJOS!!!

15 comentários:

Anónimo disse...

Ois!
Quando somos crianças desejamos ser adultos para poder fazer tudo o que não temos permissão mas quando chegamos lá, desejamos que o tempo volte para trás principalmente quando as dores reumáticas atacam! lol
Beijo

Mare Liberum disse...

Aconteceu certamente com todas as que por aqui passam ou quase todas. No entanto, o talento e a eloquência dos teus textos são privilégios raros, próprios de quem muito leu e ainda lê.
O reumático vai chegando mas as dores da alma também lavram sulcos profundos. Voltaria à meninice, à minha, muito feliz, também num colégio onde queria forçosamente crescer para viver os sonhos que acalentava.

Beijinhos

Bem-hajas!

pico minha ilha disse...

Sim a directora tinha razão quando dizia que a meninice era os melhores anos de nossa vida.Só tenho 40 e esses males já por aqui andam faz tempo.Parabéns pelo seu aniversário e pelos 3 anos do blog, que conte muitos mais com a mesma alegria e os mesmos momentos com que nos presenteia.Abraço

Pena disse...

Doce Amiga:
Um texto sublime. De narração mágica do tempo de sonhar e sonhar...a eterna meninice que faz parte de si com encanto e ternura.
"...Então directa e firme como sempre, a directora, disse-lhes que a meninice era o melhor tempo da vida, a maioridade era um sofrimento não só pelos problemas que lhes traria crescer mas também porque depois de crescer tudo se via de uma outra perspectiva..."

Brilhante. Fantástico.
Adorei!
Beijinhos de imenso valor que possui.
Com respeito enorme e admiração gigante

Pena

OBRIGADO sentido pela sua visita ao Cantinho da Terra do Nunca, de difícil acesso, constatado por muitos e, que o Ser lindo, que é, conseguiu "vencer".
Bem-Haja, amiguinha!

Agulheta disse...

Papoila.Gosto muito de prosa e conto,admiravel este aqui e numa boa nerrativa,que nos leva aos sonhos da infância que gosto de lembrar,por vezes penso se é da idade que nos deixa assim.
Olha amiga no dia do aniverssário deixei um linck para recolheres uma foto,mas como não tive tempo para enviar novamente ele está no blog Mar de chamas para ti com carinho e amizade.
Beijinho fica bem

helia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mentuhenhat disse...

Parabéns pelo magnífico texto e por este Blog que é um espaço de energia perfeita...

Continue a brilhar sempre assim...

O meu Abraço de Luz!

Secreta disse...

No final de todo o tempo que vivemos , as nossas maiores preciosidades , são as recordações.
Beijito.

Lilá(s) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lilá(s) disse...

Senti-me embalada neste sonho... e que saudades me vieram da infância...bjs

Zé Povinho disse...

Por vezes pergunto-me se somos nós que passamos pela vida se é ela que passa por nós. Vivia-a intensamente e procuro continuar a fazê-lo, mas tudo passa muito depressa, e agora sou eu que acho que o tempo bem podia passar mais devagar...
Abraço do Zé

Unknown disse...

Obrigado pela visita ao meu blog e pelo comentário deixado.
Adoro sua amizade.
Beijo
Manuela
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rendadebilros disse...

Só queremos estar onde não estamos... também no tempo. Disseste de uma forma preciosa essa insatisfação do ser humano e dessa regresso à infância ( paraíso perdido).
Beijos.

Anónimo disse...

Pois é amiga Papoila
quando se é criança há demasiada pressa em crescer, atingir a idade adulta. Não percebemos que a vida passa demasiado depressa e que mais tarde iremos ter saudades do tempo da meninice, da despreocupação e dos amigos que de uma maneira ou de outra vão ficando pelo caminho...
Nada de pressas pois ser criança é tão bom!!!
Um beijinho para ti da paginadora

Unknown disse...

Parabéns pelo texto, gostei mesmo muito!!!

Beijinhos,
Ana Martins